MANUALE PER ASSASSINARE POLLI
Martinho Santafé
A
volte, era il fiume
che smisuratamente cresceva.
E le strade restavano piene di scorpioni,
bisce d’acqua, bruchi con mille piedi…
sembrava un mostro epilettico e fangoso
in una corsa pazza fino al mare.
Valevamo
vedere le case crollare,
alberi strappati a forza,
le bambine, scalze,
che non potevano andare alla messa della domenica,
ubriachi scivolare nel caos,
trascinati fino alla foce di Atafona,
in una infinita pozza di fango e sputi
che lanciavamo al cielo.
Eravamo
pieni di vita
e volevamo la morte per finta.
Sognavamo l’apocalisse domestica,
la bomba che soffocava i nostri
pre-sogni.
Il
primo amore era accanto,
nelle lezioni della scuola che, a volte,
marinavamo
con delicato piacere.
Nell’estate
del 66’
Il fiume si arrabbiò sul serio,
si incazzò, invase il baule
dove custodivo i miei fumetti
scambiati prima del film al cinema Coliseu.
Addio mia collezione
così preziosamente inutile
di David Crocket, Buffalo Bill, Zorro,
Rock Lane, Cavaliere Nero ecc...
E
mi ricordo di questa grande piena,
nell’annientamento dei peschi,
delle vigne, dei limoni, dei polli,
dell’orto che mia nonna curava così bene.
Abius, manghi, banani,
caramboleiras, formiche,
tutto se ne andò col fiume,
con questo riferimento geografico
e concettuale
che ancora oggi cerco di tradurre.
Tutto se ne è andato col bue morto
in mezzo alla corrente,
coperto da avvoltoi.
E
alla radiolina a pile di Sor Bertolino
( che , con una canoa, aiutava le famiglie
a raccogliere i suoi averi),
i Beatles cantavano “I wanna hold your hand”.
Ho
cominciato a crescere con i Beatles
( e loro con me),
a rispettare il fiume e a temere Sor Leleno,
mio vicino e tifoso sfegatato del Flamengo,
che nelle sere di domenica,
quando la sua squadra perdeva, riempiva di botte
Dorotea, sua moglie – la più grande tifosa
del Flamengo, per motivi ampiamente giustificati.
C’era
anche Josete,
che mi ha svezzato
e che aveva un ragazzo di nome Jomar,
un raffinato mascalzone.
Nel 62’,il Brasile fu campione per la seconda
e Josete immaginava
Jomar che segnava gol dentro di lei,
Se Josete godeva, lo faceva discretamente,
come godono gli angeli.
In silenzio.
Josete,che
oggi è nonna,
era figlia di Neco Felipe,
un negro guercio e felice,
che organizzava i balli
a Conselheiro Josino,
nell’entroterra di Campos dos Goytacazes.
Balli animati con cachaça,lanterne,
fisarmoniche e qualche voce sdentata,
che ululava alla luna,nelle calde
notti d’estate.
Oltre
a Neco Felipe,
ho conosciuto altre persone felici
che vivevano in quel villaggio
davvero in culo al mondo,
immerso nella miseria e nella canna da zucchero
(le due vanno sempre di pari passo),
con un cimitero
lungo la strada.
Nella
mia testa
tutto si è scombussolato:
-come potevano le persone
essere felici
a Conselheiro Josino?
Come
potevano le persone
essere felici
in quella merda,
accanto ad un cimitero
sgangherato,
vicino ad un fiume che si porta via tutto?
Come
potevano le persone
essere?
Ma
le persone
erano
e alcune addirittura
sono andate.
L’originale
in Portoghese:
MANUAL
PARA ASSASSINAR FRANGOS
Martinho
Santafé
Às
vezes, era o Rio Paraíba do Sul
que desmesuradamente crescia.
E as ruas ficavam cheias de escorpiões,
cobras d´água, lacraias com mil pernas...
parecia um monstro epiléptico e barrento
numa corrida maluca até o mar.
A
gente torcia para que o rio subisse mais,
cada vez mais,
para que alguma tragédia
se consumasse, como no cinema.
Queríamos
ver casas desabando,
á
rvores arrancadas à força,
as meninas, descalças,
impedidas de ir à missa dominical,
bêbados patinando no caos,
arrastados até a foz de Atafona,
numa infinita poça de lama e cuspe
que mandávamos para o céu.
Estávamos
prenhes de vida
e queríamos a morte de mentirinha.
Sonhávamos com o apocalipse doméstico,
com a bomba asfixiando nossos
pré-sonhos.
O
primeiro amor estava ao lado,
nas aulas do Liceu que, às vezes,
assassinávamos
com delicado prazer.
No
verão de 66,
o rio ficou irado de verdade,
se emputeceu, invadiu o baú
onde eu guardava meus gibis
trocados antes das matinês do Cine Coliseu.
Adeus minha coleção
tão preciosamente inútil
de David Crocket, Buffalo Bill, Zorro,
Rock Lane, Cavaleiro Negro e etc.
E
me lembro dessa grande enchente,
da aniquilação dos pessegueiros,
das parreiras, dos limoeiros, dos frangos,
da horta que minha avó tão bem cuidava.
Abius, mangueiras, bananeiras,
caramboleiras, formigas,
tudo se foi com o rio,
com essa referência geográfica
e conceitual
que ainda hoje tento traduzir.
Tudo se foi com o boi morto
no meio da correnteza,
coberto de urubus.
E
no radinho de pilha de s´eu Bertolino
(que, em uma canoa, ajudava as famílias
a recolherem seus pertences),
os Beatles cantavam “I wanna hold your hand”.
Comecei
a crescer com os Beatles
(e eles comigo),
a respeitar o rio e a temer s´eu Leleno,
meu vizinho e flamenguista doente,
que nas tardes de domingo,
quando o seu time perdia, enfiava a porrada
na Dorotéia, sua mulher - e maior torcedora
do Flamengo, por motivos amplamente justificados.
Também
havia a Josete,
que ajudou a me descriar
e que tinha um namorado chamado Jomar,
um refinado sem vergonha.
Em 62, o Brasil foi bi-campeão
e Josete imaginava
Jomar fazendo gols nela.
Se Josete gozava, o fazia discretamente,
como os anjos gozam.
No silêncio.
Josete,
que hoje é avó,
era filha de Neco Felipe,
um negro caolho e feliz,
que organizava os forrós
em Conselheiro Josino,
interior de Campos dos Goytacazes.
Forrós animados com cachaça, lampiões,
sanfona e alguma voz desdentada,
uivando para a Lua, nas quentes
madrugadas.
Além
de Neco Felipe,
conheci outras pessoas felizes
que moravam naquela vila
no verdadeiro cú do mundo,
entranhada na miséria e nos canaviais
(os dois sempre andaram juntos),
com um cemitério
na beira da estrada.
Minha
cabeça
se embaralhou toda:
- como é que as pessoas
podiam ser felizes
em Conselheiro Josino?
Como é que
as pessoas
podiam ser felizes
naquela merda,
ao lado de um cemitério
mambembe,
perto de um rio carregando tudo?
Como é que
as pessoas
podiam ser ?
Mas
as pessoas
eram
e algumas até se
foram.
(Traduzione
di Julio Monteiro Martins insieme ai suoi studenti dell’Università di
Pisa:Beatrice Briglia, Roberta Chiavistelli, Eugenia Ciccarelli,
Monica Lupetti, Jessica Maghelli, Andrea Pardi, Katia Quaglierini,
Cristiano Rocchetta e Patrizia Scorziello)
Martinho Santafé, nato a Campos dos
Goytacazes(Rio de Janeiro), giornalista e scrittore, ha vinto
diversi importanti premi di poesia in Brasile.
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